Entrevista: Seu Jorge

No sábado (21/03), o cantor Seu Jorge deu o ar da graça no Credicard Hall, em São Paulo. Quem chegava pela Avenida das Nações Unidas logo percebia: o show teria casa cheia. E assim foi.

Na fila, o público estava animado. Quais surpresas viriam? Quanto tempo teria? Quem o cara convidaria? Após quase uma hora de espera, a cortina subiu e no palco, Seu Jorge, ao lado de seu "Conjunto Pesadão", explodiu toda a energia acumulada. O show fez jus ao nome espetáculo, com cada integrante da banda fantasiado de um personagem do dia-a-dia: gari, torcedor, mecânico, carteiro. Tinha de tudo. O que fede nesse país é a conjunção de dois aspectos muito fortes que determinam a nossa decrescência: a fome e a indiferença. Esses dois aspectos cheiram mal.

Entre as três horas de show, convidados iam e vinham, uns mais conhecidos outros nem tanto. Um dos destaques foi o rapper BNegão. Seu Jorge cantou com maestria a música "Negro Drama", dos Racionais MCs além de marchinhas de carnaval, que transformaram o show em folia. O repertório do espetáculo visitou sucessos como "Carolina" e "Pretinha", além de canções do último álbum. Entre elas, "Trabalhador", "Mina do Condomínio" e "Burguesinha".

Ao fim do show, em meio a muitas fotos com fãs, Seu Jorge nos colocou para dentro do camarim. Cervejinha na mão, humildade nas palavras. O cantor se disse na melhor fase da carreira vivendo em São Paulo, conversou por 20 minutos e, se não precisasse viajar, ficaria muito mais.

Depois do papo, o cantor embarcou para o Rio onde grava o novo filme do diretor Mauro Lima, chamado "Reis e Ratos". Rodrigo Santoro, Selton Mello, Cauã Reymond, Otávio Muller e Paula Bulamarqui completam o elenco. Confira a íntegra do bate-papo que o !ObaOba teve com o cantor.

!ObaOba: Como você decidiu começar a tocar violão?

Seu Jorge: Era mais para estimular a relação humana. Melhorar minha relação com as pessoas. Eu venho de uma configuração étnica muito subjulgada à aparência, ao estereótipo. Eu sofri com isso. Daí em diante, o violão chegou para possibilitar (a interação), já que é um instrumento democrático e acústico, podendo ser tocado em qualquer lugar.

!ObaOba: Quais foram suas fontes de inspiração para compor?

SJ: A espontaneidade. É isso que faz a gente criar alguma coisa. Vem do invisível. Mesmo quando não tem palavras, mesmo a música instrumental, se cria do invisível, do imaginário, da fantasia ou até mesmo de uma perspectiva de realidade traduzida em música. Tirar o concreto do abstrato é muito complicado. Música boa também sem um bom business, não funciona. Em muitos casos, nós confundimos bom business com música de péssima qualidade. Às vezes tem um bom business, que até a gente pode julgar que não nos agrade, não tenha boa qualidade, mas ainda sim tem a qualidade da relação, das relações (histórias) em torno da música.

!ObaOba: Na música "Brasis" você fala "Tem o Brasil que é lindo e outro que fede". Pra você o que é lindo e o que fede?

SJ: O que é lindo é essa permissão e essa inconsciência coletiva que diz, no meu ponto de vista, que o bom da vida é viver bem, estar bem. O lindo desse nosso país é imaginar e ter o pé no chão. Tudo pode acontecer enquanto tivermos foco e estivermos vivendo o presente. O que fede nesse país é a conjunção de dois aspectos muito fortes que determinam a nossa decrescência: a fome e a indiferença. Esses dois aspectos cheiram mal.

!ObaOba: Você fez alguns filmes com grandes atores. Como foi pra você interpretar personagens no cinema?

SJ: O cinema é uma arte maravilhosa, de grande poder de persuasão. É uma arte atemporal, que eterniza histórias, personagens ou personalidades... Eu nunca escolhi isso na minha vida, nunca imaginei ser ator. O que aconteceu é que fui escolhido por essa profissão.

!ObaOba: O que você prefere fazer: atuar ou tocar?

SJ: Não tem muita diferença na balança. Na medida que eu consigo coordenar a balança, ela fica bem aferida. O único fato de difícil convivência é a ausência de uma cultura mais intensa de fazer cinema. Tive sorte de conseguir um portifólio que me permite fazer cinema fora do Brasil. O privilégio, em parte, é não fazer testes. Quando sou convidado é porque o diretor pensou em mim.

!ObaOba: Quando fará outro filme?

SJ: Estou indo hoje (22/03) para o Rio de Janeiro gravar um filme com Rodrigo Santoro, Selton Mello, Otávio Muller, Cauã Reymond e Paula Bulamarqui.